quinta-feira

Você que "tomar" do diabo?

Por Caio Fábio

A presunção do crente-cristão é perdoável.
Afinal, veja o que contaram a ele:
Disseram a ele que o mundo, o cosmo, tudo o que existe,começou a não muito mais que seis mil anos; e que o homem é, de fato, um ser criado no sétimo dia de uma semana comum, de sete dias, como a semana passada foi.
E mais:
Disseram ao crente que o homem veio para fazer companhia a Deus.
Antes disso nem se pode imaginar o que era de Deus. O que também leva o crente a pensar que antes dele, até Deus estava no buraco do nada e no silencio relacional total.
Sim! É assim, pois, até os anjos são vistos pelos crentes como servos poderosos de Deus, mas sem o inexplicável charme do homem.
Porém, o máximo dessa grandeza do homem foi o fato de Deus mesmo ter se encarnado para salvar os homens que se tornarem crentes-cristãos.
Ora, isto supostamente demonstra a preferência absoluta de Deus pelos humanos sobre toda a criação, no céu e na terra.
E mais:
Esse sentimento de importância e grandeza do homem, também vem da certeza que alguns possuem de que a decisão de Deus foi a de somente salvar quem se reunir para cantar hinos para Ele pelo menos uma vez por semana;e, também, para ouvir alguns conselhos do pastor, e dar dinheiro como prova de amor prático por Deus.
Além de tudo..., também se diz ao crente que se ele não ajudar a contar a mesma história para outros, todo mundo está perdido; e que se ele disser para muita gente essa história, então, Deus dará ao homem uma mansão celestial e uma coroa com muitos diamantes ou pedras preciosas, podendo,inclusive, fazer com que tal pessoa seja mais intima de Deus “publicamente” que os demais salvos, muitos deles de categoria de galardão inferior, sendo que quanto mais oficial seja a participação do homem, assim como a de um pastor, um bispo, um apóstolo — mais elevado o individuo será; primeiro na Terra mesmo, e,depois, também nos céus de muita glória de sucesso, tudo com muito ouro e pedras preciosas.
Ou seja:
O que se diz é que se o homem contar essa história para muita gente, cantar hinos, e dizimar, então ele ficará no lugar que um dia foi de Satanás, ou Diabo, ou Lúcifer; posto que também ao crente-cristão seja dito que a queda de Satanás o tirou de um ambiente de pedras preciosas, de gloria e de muito e quase incomparável poder.
Assim, o crente-cristão acaba desejando ser aquilo que um dia o diabo foi.
E mais:
Muitos começam aqui, desde já, a busca de tais glórias e poderes.
Ora, o Evangelho diz muita coisa do que essa história diz, mas, apesar disso, não é de tal historinha que ele fala; mas sim, da possibilidade de o homem se tornar de fato homem, e, assim, tornar-se como Jesus, que, sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; e, por causa disso, se humilhou, e assumiu a forma de servo, sendo reconhecido em um homem como os demais homens; e isso não por nenhum necessidade de Deus, mas apenas por eterna e desesperada carência humana.
Entretanto, isto faz do homem apenas o homem, não um deus. Aliás, não há deus, nem deuses, pois, se há Deus, nenhum deus há... Quem crê em Deus se torna ateu para tudo o mais.
Todavia, voltando ao que dizia, posso compreender a arrogância do crente-cristão que assim se torne por assim ter sido ensinado. Afinal, quem sinceramente assim sinta, ainda está longe de saber o que seja um homem e qual seja seu chamado na criação. Portanto, é apenas um crente, e não um homem andando em fé amor; pois, quem ama, naturalmente não se gloria de nada, sendo apenas grato pelo que é e pode ser se o buscar ser apenas como Jesus, o homem.
Agora, pergunto:
E se a glória do homem for a de ser servo de toda a criação,em amor, para sempre, cuidando de tudo o que ele destruiu?
Seria esse cenário um anti-clima para você?
Jesus disse que o galardão é ser Nele, no Pai, e ter a Ele e o Pai em nós, assim como é com Ele e o Pai.
Esta é a glória. Esta é a História do Significado. Este é o chamado.
Ou será que na eternidade já não se terá que ter também o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus?
Ou será que você crê que na eternidade o homem recebe consentimento para surtar como o diabo sem cair?
Ora, se você assim sentia, desista disso, pois, isso é do diabo.
Sirva a Deus apenas por nada!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A desgraça da teologia da prosperidade

Caio Fábio

Como é possível crer que o significado da vida é feito de bens e posses; de poderes e cargos importantes; de superioridade sobre os demais por se ser “filho do Rei”; crer que Deus responde ao dinheiro muito mais do que a uma oração quebrantada; e entender prosperidade como algo a ser medido por conquistas materiais — e não colocar o coração em poder-ter e em “ser-alguém” porque se tem poderes ou posses?

Simplesmente é impossível confessar tais coisas e pensar que o resultado e o significado podem ser diferentes. Sim, porque cada um fica do tamanho do seu ídolo-teológico; e também cada um se torna a imagem de sua própria confissão com a boca.

Esses senhores da prosperidade são filhos da avareza, que é idolatria; posto que só se ocupam das coisas desta vida. Paulo diria que o “Deus deles é o seu próprio ventre”.

A desgraça chamada de Teologia da Prosperidade é uma das coisas mais demoníacas que já aconteceram à “igreja”; e uma das principais responsáveis por pegar o que restou da Igreja, saqueando-a de suas ultimas purezas, e, assim, tornado-a “igreja”.

Ora, a tal “Prosperidade Idólatra e Materialista”, além de ser total perversão da mensagem e sentido do Evangelho Eterno, acontece também, entre outros fatores, em razão do complexo de inferioridade da “igreja”; e também em razão de que a maioria dos proponentes de tal “teologia”, quase sempre, são pessoas de origem simples, e que viveram na pobreza, ou que não tiveram muita instrução, ou que viram na “igreja” o melhor negócio de suas vidas.

Afinal, que negócio é mais lucrativo na Terra do que a religião?

Veja: Não dá nada pra ninguém e recebe de todos; não vende nada material, mas recolhe grana como quem vendeu diamantes invisíveis; não investe em produção, mas ganha muito como industria de promessas de milagres; não tem que manufaturar nada, pois apenas tem que manipular tudo; não tem que convencer ninguém de nada, posto que, pela pobreza, pelo medo, e pela infelicidade da existência, tais indivíduos, os “fiéis”, já compraram o “pacote” como quem compra o poder de um “despacho”, etc...

Isto porque a visão de Deus anunciada nesses grupos é a de um “Deus” perverso, avaro, ganancioso, inescrupuloso, louco por prata e ouro, e que não agüenta receber uns trocados sem dar uma demonstração pagã de poder (coisa de pequenas e medíocres divindades).

Desse modo, meu irmão, ainda que conhecendo milhares que conhecem a Deus mesmo na “igreja”, a maioria, entretanto, apenas sabe de Deus pela boca doutrinária de terceiros, o que os deixa à mercê das intenções de todos os inescrupulosos. Enquanto os “evangélicos” não pararem de ouvir somente os “pastores”, e passarem a ler de fato a Bíblia que apenas carregam como amuleto divino em baixo do braço, o paganismo reinará na “igreja”.

O povo perece sempre por falta de conhecimento de Deus e da Palavra!

Essa tal “teologia” é o conteúdo espiritual de um deus pagão. Sim, um deus que responde à mecânica ritual das campanhas de prosperidade, e que se deixa mandar pelas ordens e caprichos dos pastores; e que, além disso, faz acepção de pessoas, pois, apenas é bom para os que dão dinheiro a “ele”; e também só é bom para aqueles que não faltam aos encontros com “ele” nos horários predefinidos pelos “seus” donos na terra: os sacerdotes da religião. No caso em questão, falo dos “sacerdotes” da religião evangélica, que foi a mais afetada por essa filosofia dos gurus indianos na América na década de 60 e 70.

Sim, porque a “Teologia da Prosperidade” apareceu na carona do “deus rico” dos gurus da Califórnia; e seu conteúdo é idêntico ao “deles”; ou seja: a divindade tem seus “gurus”, os quais, em sendo “servidos pelo povo”, carreiam para os “servos” as bênçãos que apenas são liberadas se eles, os gurus, forem servidos abundantemente e em primeiro lugar.

Como se não bastasse, essa tal “teologia” também é feita do mesmo material de conteúdo das principais correntes da mecânica da neurolingüística da Nova Era.

Desse modo, Deus virou deus; e de Criador passou a Criado; e de Provedor virou Garçom de Crente; e de Senhor passou a ser Servo das ordens e caprichos dos pastores que “o” controlam, e dos crentes que com “ele” fazem suas barganhas.

De fato estamos falando de uma “coisa” que seria mais bem chamada de Evangecumba. Sim, a “teologia da prosperidade” não passa de paganismo feito dos mesmos elementos mântricos e das mesmas repetições pagãs as quais Jesus denunciou.

Você pergunta se isto é anticristo? Ora, é claro que é. Por muito menos Paulo disse que os judaizantes de seus dias — os quais eram teologicamente “puros” perto dos proponentes da “prosperidade” —, eram “inimigos da cruz de Cristo”.

Preste bem atenção:

Eu não tenho a menor dúvida que tudo isto que acontece à “igreja” hoje é coisa do diabo, e creio que o “espírito” que age em tais lugares não é o Espírito de Deus, mas o espírito do mundo que jaz no maligno.

Ora, esta não é uma opinião minha, pois quem quer que seja honesto e que conheça a Palavra haverá de saber que tudo o que disse acima é verdade conforme Jesus e o Evangelho Eterno e Imutável.

Desse modo, não tenho nenhum temor quanto a dizer que entre muitos que são sinceros, ainda que enganados pela total ignorância espiritual na qual vivem, há também uma legião de mal-intencionados, os quais, na sua maioria, não são os crentes, que apenas ouvem o que é dito, mas sim os pastores que se fizeram mediadores entre os pobres crentes e “Deus”.

Ora, para mim, tal realidade equivale a ver “o abominável da desolação assentado no lugar santo”, e dando ordens em nome de Deus, como se Deus mesmo eles fossem.

O “Cristianismo” , como em abundância aqui tenho escrito, é mais uma Religião Pagã. Em seu meio, desde o inicio — ou seja: desde Constantino, que é o seu criador —, o que prevaleceu foi a magia, a bruxaria que buscava bruxas para matar com mórbido tesão, e toda sorte de tentativas de controle do nome de Deus a fim de manipular o povo ou negociar com os príncipes e com as potestades políticas.

Vejo todas essas maneiras perversas de relação com “Deus”; e também vejo como sendo coisa que equivale à bruxaria dos “Enoquianos”, por exemplo, que é uma seita que crê que por meio de palavras mágicas de ordem, pode-se pôr os anjos a serviço do homem quando este bem entende, sendo os anjos sujeitos aos homens e aos seus caprichos.

Somente quem não conhece a Jesus e Sua Palavra pode pensar que minhas palavras são ácidas. Pois quem de fato conhece a Palavra, sabe que não digo aqui nada que Paulo, Pedro e Judas não tenham dito em suas cartas e epístolas. E mais: somente quem não conhece o espírito do Evangelho e seu conteúdo é que pode se entregar à loucura, ao devaneio, ao surto da “teologia da prosperidade” crendo que se trata de algo genuíno ou de Deus.

O “Deus” ensinado pela “teologia da prosperidade” é a cara do Diabo!

Assim, meu irmão, não perca mais seu tempo com esses caras e nem com tais loucuras, pois, decerto, o fim deles, não será bom; especialmente o fim daqueles muitos que se servem de tais práticas apenas para enganar o povo, conforme um vídeo novo do senhor Edir Macedo, e que circula pela net, no qual, sem pudor, ele ensina seus “pastores”, explicitamente, acerca de como devem proceder para arrancar grana do povo, mesmo e especialmente dos pobres. Ora, o escracho e maldade propostas são explicitas, e ainda a se faz afirmar a partir da seguinte convicção: “No meio daquele povo, vai ter gente não gostando... Mas e daí? Tem que dar. E sempre tem gente para dar...”

Deus é Vivo! E todos eles, logo, logo, estarão diante do Eterno; e então verão com quantos paus se faz uma eterna cangalha!

Receba meu carinho! Fique firme no Evangelho da Graça!


Nele, em Quem a prosperidade é riqueza de boas obras e amor, e não grana e poder humanos,


Caio

sábado, 5 de setembro de 2009

O que é ser santo?

Trecho do livro Oração para Viver e Morrer, páginas 38 a 41,

por CAIO FÁBIO

Vejamos o que Jesus estava nos ensinando quando relacionou o tema da santidade à Palavra e aquilo que Deus faz a nosso favor.

1. O tema da Santidade conforme relacionado à Palavra de Deus (João 17:17). Para Jesus, a Palavra de Deus era o que poderia nos santificar. E para Ele não se tratava de uma definição de santificação esotérica e mágica. Ele não tinha em mente nenhum tipo de exposição mágica da alma humana à Palavra ao fim da qual a pessoa estivesse mais santa. Na sua mente não passavam aquelas "percepções" de que a mera exposição à Palavra santificava o ouvinte. Para Jesus, ser santificado tinha, na verdade, uma profunda e indissolúvel relação com a assimilação dos conceitos da verdade de Deus, mediante um aprendizado não apenas teórico e teológico da letra da Palavra, mas mediante a vivência da presença de Deus na história em conformidade com o padrão da Palavra de Deus feita verdade no coração.Tal percepção da relação da Palavra com a vida deve nos comprometer com a confissão de que Deus é santo e com a vivência da santidade. Além disso, ela nos induz também a perguntar por dois conceitos básicos encontrados na prática de Jesus. O primeiro tem a ver com o conceito de Palavra de Deus no entendimento de Jesus. E o segundo é aquele relacionado a como Jesus, à luz de Sua interpretação da Palavra, entendia o tema da santidade.Comecemos com o que a Palavra significava para Jesus e o que Ele chamava de Palavra de Deus. Inicialmente devemos dizer que Jesus olhava para a totalidade do Velho Testamento como Palavra de Deus (Jo. 5:39). Para Ele a questão nunca esteve entre o que era ou não Palavra de Deus no Velho Testamento, mas, apenas, em como entender, interpretar e aplicar essa Palavra ao contexto da vida humana. Ora, neste sentido Mateus 22:23-46 é o melhor exemplo disso. Nos três episódios narrados naquele texto, a grande questão não é o que é Palavra de Deus, mas como entendê-la e aplicá-la (Mt. 23:2,3). É por esta razão que nós não vemos na prática de Jesus querelas teológicas, na perspectiva seletiva a respeito do que deveria ser retirado do Velho Testamento para ser abandonado ou reforçado na prática dos seus discípulos (Lc. 24:45). Pelo contrário, para Ele, o Velho Testamento dava uma base e finalidade histórica (Lc. 4:16-19). Sua missão tinha suas raízes mais profundas nos sonhos dos profetas (Lc. 24.27). Seus sofrimentos e glórias já tinham sido vistos e saudados desde o início da caminhada histórica do povo de Israel (Lc. 22.36,37). Ele próprio tinha sido alegria existencial e a inspiração dos patriarcas e profetas (Jo. 8.56). Sua mensagem não era nova, mas o aprofundamento da revelação já existente (Mt. 22:34¬40; Lc. 10.25-28). Sua expectativa de aceitação e rejeição do seu ministério se baseava naquilo que a Palavra lhe autorizava a esperar (Mt. 13.14,15). A própria maneira sombria pela qual ele anuncia sua morte se fundamenta numa interpretação teológico-ideológico da freqüente e histórica atitude do povo de Israel, conforme descrita nas Escrituras (Lc 13.31-35). Para Ele, o Gênesis de 6 a 11 era digno de confiança histórica (Mt. 24.38-39). Além disso, o modo pelo qual ele interpretava a saúde relacional do homem e da mulher se fundamentava na originalidade do plano da criação conforme revelado no Gênesis (Mt. 19.4-6). A conexão entre pecado e queda, bem como entre ideal e realidade era para ele extraída da Escritura (Mt. 19:7-9).Até mesmo textos do V.T. de ares místicos foram encarados por ele como absolutamente simples e reveladores do modo pelo qual Deus age na história (Mt. 16.1-4). Assim, tudo que Jesus fazia tinha seu fundamento no Velho Testamento. Seu território ministerial (Mt. 4.12-17), o exercício das curas (Mt. 8.16-17), a pregação (Lc. 4.16-19), o ensino (Mt. 6-7) e a atitude de discrição e singela misericórdia (Mt. 12.15-21) estavam fundamentados no Velho Testamento. Seu sermão do Monte era, em síntese, a pregação do sonho dos profetas. De fato, o Sermão do Monte é a condensação das utopias dos profetas. Aquilo que eles não tinham conseguido chamar de História, Jesus chamou Vida. Concluindo, nós poderíamos dizer que, literalmente, toda a Escritura tem em Jesus sua afirmação: o Pentateuco (Mt. 22.23-29), os livros históricos (Mt. 12.1-7), os poéticos (SI. 118.26;22.8), as sabedorias (Mt. 12.42) e os profetas (Mt. 26.31). O próprio fato de as genealogias de Jesus estarem incluídas nos evangelhos com todas as ambigüidades “morais” às quais elas estavam sujeitas, pois Jesus descende de gentios (Mt. 1.3,5), adúlteros (Mt. 1.3-6), prostituta (Mt. 1.6), homicidas (Mt. 1.10) e ancestrais cheios de sincretismos (Mt. 1.7-10), nos mostra que, propositalmente, Ele quer estar ligado à História do Velho Testamento (Jo. 5.39).Isto posto, devemos agora relacionar a Palavra com o fato de Jesus ter dito que deveríamos ser santificados por ela. Ora, nesse caso nossa visão do escopo e da profundidade da santificação muda radicalmente. Ser santo é buscar ser essencialmente humano, ser parte da história porém vivendo a presença de Deus no mundo (Lc. 7.39). Ser santo tem relação com a busca de uma sociedade sem desigualdades e onde os mais fracos jamais sejam despojados (Mt. 23.14). Ser santo é viver a alegria do conhecimento de Deus com oração e fé e é sofrer as angústias da história como resultado de nossos vínculos com um padrão que o mundo não conhece (Mt. 11.25-27; 5.11-12). Ser santo é ser separado, não dos pagãos; como Israel equivocadamente tentou, mas é viver a diferença radical dos valores do Reino em meio às sociedades pagãs (Mt. 5.43-48). Ser santo é ter na paixão dos profetas a motivação existencial para o nosso enfrentamento histórico do mal (Lc. 13.33). Ser santo é, mesmo em dia de sábado, trabalhar a favor da santidade de vida (Lc. 14. 1-6). Ser santo é colocar o valor da vida acima do valor das coisas, mesmo aquelas mais "sagradas" (Mt. 23.23). Ser santo é entender que o altar diante do qual Deus nos quer ver prostrados não é apenas o altar do templo, mas também os altares ensangüentados dos corpos dos nossos irmãos de história e que estão caídos nas esquinas da vida (Lc. 10.25-37). Ser santo é viver a misericórdia no agitado ambiente secular, ao invés de viver a quietude alienada do ambiente religioso que não tem janelas para a história da dor humana (Mt. 9.9-13). Ser santo é acreditar que a santidade não se polui quando toca com amor, aquilo que é sujo (Mt. 8.1-4; Mc. 7.1-23). Ser santo é não temer ser mal interpretado pela mente daqueles que estão sujos de pretensa santidade.(Mc.7.5;Lc.7.39).Para Jesus, ser santo é ser verdadeiro para com a nossa condição humana: é ter a coragem de chorar em público (Jo. 11.35), de admitir perdas e saudade (Jo. 11.36), de gritar de dor (Mt. 27.50), de confessar depressão (Mt. 26.38), de pedir ajuda emocional (Mc. 27.50), de se confessar cansado (Jo. 4.6), de dizer tenho sede (Jo. 19.28), de confessar dificuldades familiares (Mc. 3.21;Jo. 7.1-9), de admitir que a privacidade é um direito e uma necessidade de sobrevivência (Mc. 6.30-32,45,46). Ser santo é admitir que o amor pode ser exercido na perspectiva da disciplina física (Mc. 11.15-19) e que o "desabafo" é um sadio escape quando se está farto de estupidez (Lc. 11.31-32). Ser santo é continuar sendo de Deus mesmo em meio ao mais profundo e inexplicável silêncio divino (Mt. 27.46).Desse modo, não santificamos a Deus quando falamos o seu nome enquanto furtamo-nos à verdade e praticamos todas aquelas coisas que a Palavra de Deus decreta como abominações, ainda que disfarçados pela nossa pseudo-moralidade. Também não santificamos a Deus com a nossa teologia reducionista e domesticadora da divindade, que pretende reduzi-lo a dogmas, ritos, liturgias e espaços. Também não santificamos a Deus com a nossa noção de sermos secretários da divindade, achando que sabemos tudo sobre Ele, achando que discernimos toda a Sua vontade, como se tivéssemos todas as manhãs uma entrevista marcada com Ele, na qual nos mostrasse detalhadamente todos os caminhos da vida. Blasfema contra Deus quem não pode dizer como Paulo em Romanos 11:33-36, que ninguém jamais conheceu ou penetrou na totalidade dos seus caminhos. Blasfema contra Deus quem não se abriu para o ministério de Deus. Não santificamos a Deus quando todo o nosso interesse em relação a Ele é sermos "ajudados". Ofendemos a Deus não somente pela negação do Seu poder, mas também pela súplica egocêntrica. Não se santifica a Deus quando se estabelece um lugar para ele morar, caindo nas teologias pagãs do "lugar santo". Ora, lugares só são santos quando santificados pela presença de homens santos que cultuam ao Deus Santo. Não se santifica o nome de Deus quando se viola a sua imagem e semelhança nos seres humanos que nos cercam. Não se santifica a Deus onde os pequenos são apenas suportados e os grandes são preferidos. Não se santifica a Deus nas nossas ruas cheias de meninos nus e crus, que perambulam como cães virando latas de lixo. Não se santifica a Deus quando a Igreja se toma um "bastião" do poder religioso, capaz de favorecer influências políticas mundanas e iníquas. Não se santifica a Deus quando nossa esposa não é santificada pelo nosso convívio e os nossos filhos e amigos não provam o benfazejo resultado da nossa ligação com Deus.2. A obra redentora de Jesus conforme relacionada ao tema da santidade: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo..." (v.19) A segunda idéia à qual o tema do Pai Santo e da santidade está relacionada em João 17 é a obra salvífica de Jesus. Isso porque a santificação que o Pai santo pede dos Seus filhos só pode ser vivida em Cristo. É por isso que Jesus, conquanto nos desafie concretamente à vivência da santidade, nos faz provisão espiritual para que tal santificação seja uma possibilidade. Sem tal provisão espiritual a vida cristã é simplesmente impossível. Talvez essa seja justamente a nossa principal falha histórica: tentar viver por nossa própria conta e meios a santidade para a qual somos chamados. Talvez o mais terrível exemplo disso na atualidade esteja exatamente demonstrado na queda dramática e escandalosa de pregadores cujos projetos teológicos e pessoais pregam comportamentos de santidade antropocêntrica. Ora, a única diferença entre legalismo e santidade é que o primeiro é esforço humano e o segundo é obra do Espírito.Por que estou dizendo isso? Simplesmente para mostrar o que Jesus dissera quando afirmou que a "favor dos discípulos Ele se santificava a si mesmo", era muito mais do que poesia sacerdotal. De fato, tratava-se da mais fundamental afirmação de segurança espiritual que a Palavra de Deus nos oferece. É sabido por todos nós, que Jesus Cristo é a única provisão de Deus para a salvação humana. E na minha maneira de ver, salvação e santificação andam extremamente ligadas. Para entendermos o tema da santificação, precisamos entender primeiro o tema da salvação e aquilo a que ela está ligada.Ora, Deus está redimindo hoje o espírito humano de modo forense e judicial, por causa da obra de Jesus na cruz. No entanto, tal salvação também traz consigo o anúncio das boas novas de um processo redentivo, multidimensional, que Deus continua a realizar, atingindo variados segmentos da nossa própria vida. É isto que Paulo diz num texto que tem criado problemas na mente de muitos irmãos: "... desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor, porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar segundo a sua vontade" (Fp. 2.13). O fato de a salvação precisar ser desenvolvida não significa que ela tem de ser conquistada. Nós só desenvolvemos aquilo que temos, e nós temos a salvação, definitivamente, pela fé na Graça de Cristo. Tal salvação, precisa apenas expandir-se, corporificar-se e multidimensionar-se na existência humana. É também por isso que Paulo continua apresentando alguns exemplos básicos de como fazer a salvação “crescer”: "sem murmurações nem contendas". Ora, isto tem a ver com a nossa interioridade curada e com as relações que precisam ser reconciliadas para que, na História, nos tornemos “irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, e inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta”.A salvação judicial e forense, por meio da fé em Jesus, deve desembocar num processo de humanização, tendo Jesus como protótipo, conforme diz Romanos 8.29 "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". A salvação que se recebe pela fé, desse momento em diante, entra na fase de desenvoltura dentro de cada pessoa para quem Jesus é o Salvador, o projeto, o protótipo, a referência e o Mestre. Isto porque o plano de Deus é que esta salvação se multidimensione em cada um de nós, de modo a caminhar na direção de tornar cada pessoa "conforme a imagem de seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos", os quais são parecidos com Ele.Assim é que, metafisicamente, aos olhos de Deus, nós somos uma obra acabada. Sua graça nos fez totais aos Seus olhos, de modo que judicial e forensemente estamos justificados. Mas historicamente falando, porém, veja o que Paulo diz em Filipenses 3.12,13: "Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus". No versículo 16 diz ainda: “Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos”. O versículo 15 ele já havia dito: “Todos pois que somos perfeitos, tenhamos este sentimento”. Os dois elementos (salvação-forense-judicial versus salvação-histórico-processual) estão presentes nestas citações.Veja o que se diz acerca da salvação forense-judicial: "Nós que somos perfeitos" (v.15). Ora, tal afirmação só é possível em Cristo. Fora dele, nenhum de nós, inclusive Paulo, é imperfeito e inacabado.Veja agora o que se diz sobre a salvação histórico-processual: “não tenho obtido a perfeição...mas prossigo para conquistar...todavia andemos de acordo com o que já alcançamos...” (v.12,13,16).Assim é que, forense e judicialmente estamos perfeitos em Cristo. Historicamente, porém, estamos ainda a caminho, de modo que a justificação já realizada e acabada em Cristo não deve estagnar o processo histórico de continuidade de nossa salvação. Com relação a este último aspecto, Paulo utiliza em Filipenses três palavras e expressões processuais do tipo “prossigo”, “avançando”, “andemos”, “não alcancei”, e “tenho um alvo”. São palavras e expressões que nos colocam a caminho e que não permitem que a justificação se engesse no moralista religioso ou se apóie na graça barata.Ainda em Filipenses 3, Paulo diz que a salvação, enquanto obra a ser desenvolvida, implica num processo histórico, pois tem relação com três tempos: passado, presente e futuro. Ele diz que as “coisas que para trás ficam”, para trás ficam; que as coisas do presente ao presente pertencem (“não que eu tenha alcançado”) e que as coisas do futuro, “diante de mim estão”. Ora, isto é precisamente o que compõe a História: presente, passado e futuro. Portanto, tal salvação-santificação tem que se desenvolver aqui, na História.Paulo também afirma que este processo histórico pode ser chamado de processo de “cristificação”. Esse processo é dinâmico. Ele diz: “...não obtive, porém prossigo...”. Todos nós podemos alcançar tudo quanto Deus colocou à nossa disposição.Ora, aqui neste ponto nós voltamos objetivamente ao tema da santificação, e com uma pergunta. Isto porque uma vez que os conceitos básicos relacionados com a salvação estão postos, nós devemos perguntar o que isso tem a ver com a nossa santificação. Não devemos nos esquecer de que em João 17, texto de nosso estudo, o Senhor Jesus disse que Ele mesmo se santificava a nosso favor. Ou seja: há algo da vicariedade de Jesus na nossa santificação também. É bom afirmar isto, pelo simples fato de que há muito legalismo com relação à perspectiva da santificação. Na maioria das vezes, a santificação tem sido entendida como sendo o “lado humano” da salvação. Ou seja: “Cristo nos salvou e cabe a nós tornarmo-nos dignos da salvação através da santificação”. No entanto, não há santificação possível que prescinda também da graça santificadora de Deus. Com isto não estou dizendo que a santificação não implica em compromissos éticos concretos na história. Se assim fosse, eu estaria negando tudo o que escrevi a respeito da necessidade das nossas vidas confirmarem a revelação da Palavra. Como diz Willian Barclay: “o cristianismo, como também o judaísmo, é essencialmente uma religião ética. Por isso se deve dizer que o cristianismo insiste que o ser humano deva viver um certo tipo de vida e ser um certo tipo de pessoa” (William Barclay; "The Mind of ST. Paul”, pág 75).Do mesmo modo que o Novo Testamento ensina que a salvação é fruto da graça de Deus realizada e consumada em Jesus Cristo, ele nos ensina também que a realidade da santificação se alimenta da mesma fonte de eficácia espiritual: a Graça. A santificação resulta de uma vida que antes de tudo se viu morta em Jesus Cristo para o pecado (Rm. 6.11-14). Na realidade, a questão-chave da santificação se resume na expressão “estar em Cristo”. Estar em Cristo significa TUDO na vida cristã. Literalmente, não há qualquer progresso humano possível, fora desse estar “em Cristo”. Neste sentido, há uma diferença fundamental entre estar “em Cristo” e estar “na igreja”. Obviamente acredito que estar em Cristo significa também estar na IGREJA de Cristo. A questão, no entanto, é que a Igreja de Cristo se misturou com aquilo que nós chamamos de Cristandade. Foi precisamente nesse sentido que Santo Agostinho disse “que a igreja tem muitos aos quais Deus não tem e que Deus tem muitos aos quais a igreja não tem”. Para Santo Agostinho, a “igreja” não era necessariamente a IGREJA. Podia ser apenas uma deformação institucionalizada daquilo que Jesus sonhara.Isso porque, Santo Agostinho quanto nós, acreditamos que quem de fato está em Cristo está na IGREJA, e na comunhão da fé que a verdadeira Igreja promove e para a qual nos convida. No entanto, há aqueles que estão na IGREJA e que não conseguem “entrar nas igrejas”. Esses são cristãos, mas não suportam aquilo que nós chamamos de “cristianismo”.Descrevendo esse afastamento do cristianismo em relação à IGREJA conforme exposta no Novo Testamento, Jacques Ellul afirma em “Subversion of Christianity” o momento histórico em que essa mudança teve e tem lugar. O momento é exatamente quando sai-se da perspectiva orgânico-qualitativa de igreja para a perspectiva organizacional-institucional (por exemplo, quando a comunidade da fé vira “-ismo”). Nesse caso, é como se uma fonte de água viva fosse transformada em um canal de irrigação mais ou menos regulado e estagnado, até ao ponto em que a água da fonte original torna-se totalmente poluída na medida em que ela vai sendo “mecânica e artificialmente trabalhada” pelo sistema de distribuição.De fato, o grande segredo da santificação, como já dissemos, é estar em Cristo e tendo sempre a coragem de verificar se estamos mesmo nEle (II Co. 13.5) Este é o princípio essencial à santificação e às demais virtudes da fé cristã. Do ponto de vista do Novo Testamento, “em Cristo” nós temos:1. Consolação: “Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria...” (Fp. 2.1,2).2. Ousadia: “Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém ” (Fm 8).3. Liberdade: “E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, e reduzir-nos a escravidão” (Gl. 2.4).4. Vitória contra a mentira: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência” (Rm. 9.1).5. Promessas: “...a saber que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef. 3.6).6. O AMÉM de Deus à vida: “Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para a glória de Deus, por nosso intermédio” (11 Co. 1.20).7. Somos santificados: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co. 12).8. Somos sábios: “Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos e vós fortes; vós nobres e nós desprezíveis” (Co. 4.10).9. Somos novas criaturas: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (II Co. 5.17).10. Somos chamados: "Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente o que foi chamado, sendo livre. é escravo de Cristo” (I Co. 7.22).11. Temos o mais elevado objetivo: "Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.14).12. Apesar de tantas vezes sermos imaturos, somos salvos: "Eu. porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais. como a crianças em Cristo" (I Co. 3.1).13. Estamos estabelecidos: "Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus" (11 Co. 1.21).14. Podemos andar em vitória: "Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele" (Cl. 2.6).Tudo isso parece simples demais para as mentes mais sofisticadas e teológicas, as quais, por certo, até "pularam" esta série de 14 afirmações decorrentes de se "estar em Cristo". No entanto, as coisas acima mencionadas são seriíssimas. Senão veja: se elas são assim tão simples, por que há tão poucas evidências dessa santificação em nosso meio? Por que tanto pecado, imoralidade, roubo, mentira, descrença, administração iníqua dos bens da igreja por parte de líderes? Por que tanta traição, falsidade, calúnia, inveja e maldade? E mais: por que isso acontece tão intensamente dentro da igreja quanto acontece fora dela? E mais: por que os grupos cristãos mais legalistas são, tantas vezes, as mais desgraçadas vítimas desse fracasso?Talvez tudo isso aconteça pela simples razão de que aquilo que o evangelho nos convida a ser tem íntima ligação com a Graça de Deus. E, nesse sentido, aquilo que o evangelho oferece é intolerável e inaceitável. Você julga que há alguma coisa aceitável na graça? Não! As pessoas não gostam da graça justamente porque a graça não lhes dá controle sobre a situação. A graça não depende de mim. Ela extrapola meu domínio. Não há nada de seguro no fato das pessoas condenadas à morte estarem livres dela porque um desconhecido e Estranho Soberano simplesmente as livrou disso, sem lhes dar qualquer razão justificável para tal ato. A graça é totalmente arbitrária: "Eu serei gracioso para quem Eu quiser ser gracioso e misericordioso para quem Eu quiser ser misericordioso..." Nesse caso não há nada que possamos fazer: não há sacrifícios, ritos, orações, atos de bondade, busca de sabedoria, ascetismo moral e religioso, etc. Nada pode ser feito para se ter controle sobre a graça. Não há trocas a serem feitas, e assim nos sentimos extremamente humilhados na nossa incapacidade de "justificar" a relação, pelo menos por um pouco. A graça exclui tudo aquilo que nos garante segurança. Nossos sacrifícios não são aceitos, nossos moralismos são ridicularizados, nossas liturgias são chamadas de cansativas, e nossas justiças próprias são chamadas de trapos de imundícia. Pode haver algo mais afrontoso para a natureza humana do que esse estado de absoluta impotência no qual a graça coloca a todos nós? Não! E por isso que o legalismo é o supremo ato de rebelião contra Deus. O legalismo é mais blasfemo do que o desconhecimento de Deus (Rm. 2.12-16). O sincretismo, o paganismo e a promiscuidade suscitaram menos a ira de Jesus do que o legalismo que lutava contra a graça. Todos nós ficamos possuídos por um desejo obcecante de justiça própria. Temos obcecante desejo por nos mostrar justos e retos. Nossa maior idolatria é aquela na qual nós mesmos somos os "nichos" e os “santos" do nosso culto moral. Nosso maior prêmio é sermos vistos como justos pela nossa comunidade. Ora, nesse sentido, nós, "religiosos", somos menos suscetíveis à graça de Deus do que as meretrizes e os pecadores da nossa sociedade? Eles já estão "como canas quebradas e como torcidas que fumegam" (Mt 12.20). Eles já perderam a chance de lutar pela sua justiça própria. Foi por isso que eles foram os mais receptivos à graça de Deus durante o ministério de Jesus.Eu quero dizer que a única maneira de receber o beneficio da graça de Jesus que nos santifica é mediante a aceitação da nossa total incapacidade de justificar o que Deus fez e está fazendo em nós. Somente quando nossas armas estão completamente depostas é que o Espírito pode atuar em nós, a fim de nos fazer entrar no profundo processo da santificação. Cristo já fez tudo na Cruz. O que nos resta é exorcizar os demônios das nossas pretensões religiosas, a fim de sermos suficientemente simples para receber aquilo que só os humildes de espírito admitem: a graça de Deus.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Igreja e o Papa

Por Caio Fábio

O Papa morreu, e, por incrível que pareça, ainda tem muito evangélico que deseja vê-lo no inferno. Malignos são esses! No domingo anterior à morte do Papa, enquanto ele ainda agonizava, o meu amigo Ariovaldo Ramos deu uma brevíssima declaração para o Fantástico a respeito do Papa, e, perguntado pela repórter o que ele desejava ao Pontífice naquele momento de dor, ele disse: "...desejo que ele desfrute da paz prometida aos que dedicaram a vida a Cristo e à Sua honra". Pronto! Estava armado o circo. Recebeu uma chuva de e-mails execrando-o por dizer que o Papa foi salvo, embora a declaração feita tenha sido: "...desejo que ele desfrute da paz prometida aos que dedicaram a vida a Cristo e à Sua honra". Acabo de saber que um seminário de São Paulo fez circular entre os alunos (não sei se oficial ou informalmente) uma "Carta Repúdio" por ele ter dito que o Papa "foi para o céu...". O Novo Testamento fala algumas poucas vezes de uma certa categoria humana que pode ser designada como "filhos do diabo", ou como "filhos do inferno", ou mesmo ainda como "filhos do maligno". À exceção de uma citação na boca de Paulo, em Atos, confrontando um bruxo que tentava corromper o que ele dizia, na tentativa de mexer com o entendimento de Sérgio Paulo, uma autoridade romana importante, e que se interessara em ouvir o que Paulo tinha a dizer—, todas as demais vezes em que tais designações aparecem, são relacionadas a Jesus e têm a ver com os religiosos, exceto a alusão aos filhos do maligno na parábola do Joio e do Trigo, na qual não há nenhuma designação específica de quem eles possam ser. Mas é em João, do capitulo 8 em diante, que Jesus escancara e diz que os "filhos do diabo", ali, diante Dele, não eram aos pagãos, mas sim os que se diziam filhos de Abraão, os quais se orgulhavam de uma suposta superioridade moral e acerca de sua sapiência da verdade como Lei; sendo, porém, seres do ódio, da torcida contra, da incapacidade de se alegrar com a misericórdia; mas ao contrário, amando o juízo, o julgamento e a morte de todo herege; cegos, porém, para discernir o amor de Deus; tão enredados que haviam ficado pelo diabo, que neles agia como dogma, doutrina, superioridade moral e escolha deles como gente superior. Ora, era por tais sentimentos de "Espiritualidade Ariana" que eles eram chamados por Jesus de "filhos do diabo". Eu espero ver o Papa no céu. Espero encontrar com ele em Cristo. Espero ver como a Graça é maior do que a Tradição da Religião. Espero ver como aquele menino polaco ficará quando virar homem em Cristo, isto depois de ter vivido a sua infância espiritual como Papa João Paulo II. Mas tem gente que quer vê-lo no inferno. A tal ponto que o Ariovaldo não pôde nem mesmo expressar o "...desejo que ele desfrute da paz prometida aos que dedicaram a vida a Cristo e à Sua honra". Pelo amor de Deus! Quem pode dizer que tem em si o amor de Deus e ser capaz de desejar que um outro homem, qualquer outro, de qualquer credo, de qualquer tempo, possa não ter encontrado a Graça de Deus? Esses, segundo Jesus, são filhos do espírito do diabo. Pois é o diabo quem quer ver pessoas no inferno. E quem destina pessoas ao inferno, filho do inferno é; posto que, no amor de Deus, sempre se espera que o Deus que teve misericórdia de nós e do rei Manassés seja também misericordioso com todos os homens, incluindo papas, e, sobretudo, evangélicos, e, mais profundamente ainda, os pastores e os professores de seminário que tornam o Papa inelegível para os céus. Cuidado! Jesus disse: "Eis que virão muitos... de todas as direções... mas vocês vão ficar fora...". Quem odeia não conhece a Deus; não O viu e jamais teve Seu amor no coração! E quem tem a coragem de imaginar um homem no inferno é sempre porque é habitante do lugar, e não quer ficar sozinho! Temor e Tremor perante o Deus da Graça! É crer ou apodrecer! Extraído da Revista EntreNós: http://www1.uol.com.br/bibliaworld/entrenos

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